Tsatê, essa palavra agora faz sentido pra mim.
Quando iniciei o caminho de volta, achei que estava enlouquecendo, afinal, era um caminho de volta. Um tanto desconhecido, cheio de obstáculos desconhecidos, pedras e mais pedras que eu nunca tinha visto igual.
Cheguei a duvidar da minha sanidade mental e da minha própria identidade. Me senti um corpo em transição étnica no mundo. Por ignorância do desconhecido, deixei que a sociedade me definisse como negra de pele parda, mas os búzios me alertaram "você têm os dois pés na mata". E aquela sensação interna, um chamado ancestral que gritava: "vem por aqui!". Até meu pai me dizer: você não é negra, você é Puri.
O tempo foi passando e eu não entendia o que meu ancestral paterno me dizia: Puri? Que palavra é essa? O que é ser Puri? Fui pra internet e dados estatísticos me disseram: extintos. Mas e agora? Acabei de descobrir que sou Puri, e tô estatisticamente extinta? Mas eu existo e inclusive os meus familiares paternos e Puri.
Mais uma vez percorri o caminho de volta, andei pela família paterna, pesquisei o caminho do meu pai. Então, caminhei pelo território dos meus ancestrais em Barbacena MG, e passei pela origem deles em Santa Bárbara do Tugúrio, território da minha avó Margarida Helena de Jesus e descobri que minha bisavó Maria Helena de Jesus, mãe da minha vó paterna era indígena e depois descobri que a mãe do meu vô paterno Maria Antônia da Conceição era Puri também por parte do meu avô paterno João Pereira da Cruz. Os búzios tinham razão, eu tenho os "dois pés na mata" por parte de vô e vó paterno. E o nome desses "pés na mata" é Puri.
Agora tudo faz sentido! A poesia que recebi "Memória Ancestral", a minha conexão com a arte e com a escrita. O chamado que tive com a caneta desde os meus oito anos de idade . A forma como me conecto com a espiritualidade e exerço a minha fé, os rezos, os benzimentos e a horta da vó Margarida, sabedoria ancestral que recebi sem ter consciência de quem eu era.
Houve um apagão na memória dos meus ancestrais paternos, parece que a nossa memória foi pega no laço. Agora sou porta voz da minha família e retomo a nossa identidade. Me sentía sozinha nessa jornada, estava lutando só, e ontem dia 27 de abril de 2025, pela primeira vez me senti renascer e de fato pertencente de um território ancestral. Agora não lutarei mais só, tenho o meu povo para caminharmos juntos !
Por Thaís Alessandra Puri 🏹
Tradução: tsatê (irmão/irmã na língua Puri)