segunda-feira, 28 de abril de 2025

tsatê

 Tsatê, essa palavra agora faz sentido pra mim.


Quando iniciei o caminho de volta, achei que estava enlouquecendo, afinal, era um caminho de volta. Um tanto desconhecido, cheio de obstáculos desconhecidos, pedras e mais pedras que eu nunca tinha visto igual. 


Cheguei a duvidar da minha sanidade mental e da minha própria identidade. Me senti um corpo em transição étnica no mundo. Por ignorância do desconhecido, deixei que a sociedade me definisse como negra de pele parda, mas os búzios me alertaram "você têm os dois pés na mata". E aquela sensação interna, um chamado ancestral que gritava: "vem por aqui!". Até meu pai me dizer: você não é negra, você é Puri. 


O tempo foi passando e eu não entendia o que meu ancestral paterno me dizia: Puri? Que palavra é essa? O que é ser Puri? Fui pra internet e dados estatísticos me disseram: extintos. Mas e agora? Acabei de descobrir que sou Puri, e tô estatisticamente extinta? Mas eu existo e inclusive os meus familiares paternos e Puri.


Mais uma vez percorri o caminho de volta, andei pela família paterna, pesquisei o caminho do meu pai. Então, caminhei pelo território dos meus ancestrais em Barbacena MG, e passei pela origem deles em Santa Bárbara do Tugúrio, território da minha avó Margarida Helena de Jesus e descobri que minha bisavó Maria Helena de Jesus, mãe da minha vó paterna era indígena e depois descobri que a mãe do meu vô paterno Maria Antônia da Conceição era Puri também por parte do meu avô paterno João Pereira da Cruz. Os búzios tinham razão, eu tenho os "dois pés na mata" por parte de vô e vó paterno. E o nome desses "pés na mata" é Puri.


Agora tudo faz sentido! A poesia que recebi "Memória Ancestral", a minha conexão com a arte e com a escrita. O chamado que tive com a caneta desde os meus oito anos de idade . A forma como me conecto com a espiritualidade e exerço a minha fé, os rezos, os benzimentos e a horta da vó Margarida, sabedoria ancestral que recebi sem ter consciência de quem eu era. 


Houve um apagão na memória dos meus ancestrais paternos, parece que a nossa memória foi pega no laço. Agora sou porta voz da minha família e retomo a nossa identidade. Me sentía sozinha nessa jornada, estava lutando só, e ontem dia 27 de abril de 2025, pela primeira vez me senti renascer e de fato pertencente de um território ancestral. Agora não lutarei mais só, tenho o meu povo para caminharmos juntos !




Por Thaís Alessandra Puri 🏹



Tradução: tsatê (irmão/irmã na língua Puri)


Foto: Heliomar Bazillio 

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Gato é 'preso' suspeito de furto nos EUA

 
Família chamou polícia da Flórida por suspeitar de tentativa de roubo, mas era apenas um felino perdido.

 

Existe linguagem animal? Esse foi o tema da minha última aula sobre Estudos Linguísticos. Após o mistério que pairava sobre o ar, a professora concluiu que não, pois a linguagem precisa de interação entre mais de um indivíduo para que ela ocorra, além da existência de um aparelho fonador. Condições essenciais para que uma linguagem seja expressa. O fato é que a professora disse que “a Ciência tem avançado muito nos estudos e pode ser que a Ciência Linguística também amplie futuramente as suas dicotomias”.

 - Mas, professora! O aparelho fonador dos gatos possui cordas vocais, laringe e emite um ronronar, miados e outros sons, e assim como nos humanos é responsável pela emissão de sons, incluindo miados e ronronados. Ele consiste principalmente nas cordas vocais, que vibram ao passar o ar, e na laringe, que ajuda a ajustar o tom do som. Argumentou o aluno. Em resumo, o aparelho fonador dos gatos é uma estrutura sofisticada que permite uma variedade de sons, que são usados para comunicação, expressão de emoções e até mesmo para auxiliar no processo de cura.

O aluno mais uma vez insistiu em refutar a Ciência Linguística:

- Se pensarmos que todo tutor de gato fala e compreende o “gatês”, língua felina emitida pelos gatos, essa tese da não existência de uma linguagem verbal entre os animais não se sustenta, pois além da comunicação corporal e facial,  os gatos usam também a vocalização, ou seja, os felinos também se comunicam para além do “miau, miau”. Os policiais que prenderam o suspeito sabiam muito bem disso. Mas, e a Ciência Linguística, sabe? Um gato preso por furto nos EUA? Acusado e sem direito a nenhuma defesa? Apenas porque a sua linguagem não é compreendida e aceita entre os humanos. Pobre vítima do antropoceno! Será que a Ciência Linguística entendeu essa prisão? Afinal, houve uma comunicação meio invasiva e cheia de ruídos que levaram a prisão do pobre gato, que só queria matar, mas a própria fome.

O "crime" ocorreu no condado de Collier. Quatro policiais foram atender a um chamado na noite de domingo (1º) em uma casa. Barulhos levaram os moradores a acharem que um furto estava em andamento. Policiais foram atender a um chamado por furto no estado americano da Flórida e acabaram "prendendo" o suspeito: um gato. O meliante foi conduzido a um abrigo, onde a identificação por microchip revelou que se tratava de Bones, um gato de estimação que tinha fugido. O gato foi devolvido ao dono.

 


Crônica produzida por mim a partir do texto original que se encontra disponível na fonte -  https://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2019/09/04/gato-e-preso-suspeito-de-furto-nos-eua.ghtml


Por THAÍS ALESSANDRA 

domingo, 20 de abril de 2025

O LIVRO DE TERESA

 Um romance poético-ancestral 


Indico: O LIVRO DE TERESA de @carlos.renatto



Teresa, filha de Oyá, destemida e seguia rumo ao seu destino-mar. Sempre pintava o seu coração e o enfeitava das cores que atinasse. Sua personalidade se misturava a dos orixás que a regiam, meio vento, meio água. 


A poesia-romance de Teresa se passa num quilombo, e nos prende a atenção do início ao fim, nos fazendo sentir o cheiro do café coado com a água do rio, o cheiro das flores e da beira do fogão a lenha. 


 Lembrei das histórias que minha avó Margarida contava quando me deparei com a Vó Quitéria também. Um colo pra alma.



Por Thaís Alessandra