quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Ancestralidade

#poemaautoral✍ por @thais.alessandra_

A ancestralidade é viva! Transcende e perpassa em nós como um rio que desagua suas memórias da nascente ao mar.


Falo por todos aqueles que vieram antes, 

que permanecem em minhas memórias ancestrais, 

em meus poros, 

em meu ventre,

e no meu "futuro-presente".


Em cada palavra escrita ou arte expressada, 

é como se abrissem um portal do tempo a me guiar.

Sinto o pulso cósmico da minha identidade ancestral a me impulsionar.


Falo por todos aqueles que vieram antes, 

que permanecem em minhas memórias ancestrais, 

em meus poros, 

em meu ventre,

e no meu "futuro-presente".


A ancestralidade é viva!

 Aqueles que foram, são presentes.


#repost da imagem: Facebook RepNegraLivramento

Poesia autoral de Thaís Alessandra (@thais.alessandra_). *Não divulgue sem mencionar os créditos! Sujeito as penas da Lei 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais)*

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

INSUBMISSAS

Queremos SER notadas,

Desejadas,

Amadas,

E até cortejada. Mas, nunca, assediadas!


Queremos ser ouvidas na velocidade da LUZ!

E, não queremos SER homens para sermos ouvidas!


Que o seu elogio não silencie o nosso intelecto,

invisibilizando a nossa potência para sermos belas aos seus olhos.


Chegue bem de mansinho,

porque aqui além de um par de peitos e bunda, TEM CÉREBRO!

SOMOS INSUBMISSAS!



Poesia autoral de Thaís Alessandra (@thais.alessandra_), divulgada na coletânea Diversidade Poética - organizada por @marialuizabrasilescritora e @lupoetizando

Não divulgue sem mencionar os créditos! Sujeito as penas da Lei 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais)



quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO & FUTURO ANCESTRAL - de AILTON KRENAK

 

As sensações que tive ao ler IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO foi a de "abraçar a perspectiva do autor" que critica o conceito de humanidade vigente, aonde o homem se percebe como algo separado da natureza, além de nos provocar a respeito dos "ambientes artificiais" que estamos reservando para as futuras gerações viverem como se fossem uma lembrança do que existiu na terra. O autor ainda nos provoca se é esse o ambiente que as futuras gerações gostariam de habitar. Para krenak, devemos deixar um rio intacto para as sete gerações futuras, mas "usamos o rio para joga-lo fora depois", pois nos entendemos como algo separado dele.

Nessa obra, o autor ainda menciona que o conceito de humanidade está fadado ao fracasso, porque o homem é uno com a natureza, mas se percebe como algo distante dela, como se o meio ambiente fosse algo separado de nós, como se fosse uma disciplina acadêmica. 

Krenak ainda afirma que não somos os únicos seres a ter uma personalidade própria ou um estilo de vida, pois até uma pedra ou um rio que é um ancestral nosso, e segundo o autor ele é nosso avô, pois está aqui bem antes de nós, têm personalidade própria. 


Já a obra FUTURO ANCESTRAL, nos traz uma perspectiva muito interessante sobre os rios que estão aqui antes de nós, são nossos ancestrais e são vivos, mas estão sendo destruídos para construção de hidrelétricas e barragens que mudam o curso natural deles para que se estabeleçam as cidades.

O autor também nos provoca várias reflexões sobre as cidades, que são construídas segundo a lógica do capitalismo, pois se mantém pelo padrão vigente do sanitarismo urbano e extermina tudo aquilo que não é considerado limpo, "o ideal é comprar uma batata limpa no supermercado", pois a terra representa sujeira, "quando foi que a terra virou sujeira?", questiona o Krenak nessa obra.

Além disso, o capitalismo e as cidades de acordo com o autor, se mantém pela lógica da pobreza, pois tira-se o homem do campo ou o indígena do seu habitat natural, que os permitia pescar, plantar e caçar livremente e os colocam em periferias ou ambientes subalternizados com restrições alimentares e outros acessos limitados.

A obra também nos faz refletir sobre a educação formal que formata a criança, ao invés de deixá-la com o pensamento livre para criar novas perspectivas. Segundo Krenak nascemos prontos, com a nossa própria identidade, mas somos moldados pela educação formal, e o " mistério indígena, que passa de geração em geração é colocar o coração das crianças no ritmo da terra".

Recomendo a leitura de ambas as obras para descolonizar o pensamento!
Por Thaís Alessandra

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Das Cinzas da Senzala, O Levante.

Percepções pessoais e sensações sobre a obra de Adriana Santana, "Das Cinzas da Senzala, O Levante":


O romance Úrsula de Maria Firmina dos Reis foi o primeiro romance a me afetar dentro dessa temática, pois trazia a óptica dessa autora que viveu no século XIX e deu voz as dores dos negros escravizados por meio da sua obra, em uma época em que eles não tinham voz.  Maria Firmina dos Reis me fez sentir, mais do que compreender, sentir as  próprias vivências de desumanização que essas pessoas tragas a força da África para o Brasil viveram ao serem escravizadas em terras "além mar", mas segundo o "olhar deles" e não como foi contado para nós através da história. 


Em analogia a esse grande romance do século XIX, apresento a obra "Das Cinzas da Senzala, O Levante", romance premiado em 1o. Lugar - Prêmio Maria Firmina de Literatura - Novos Autores 2021, que a meu ver também (des)silencia aqueles que não tinham voz naquela época. Além disso, todos os elementos da cultura afro-brasileira que foram descritos nessa obra foram relatados com tanta maestria, quase que de forma poética, emocionando "a leitora que se questiona se aconteceu mesmo o que está sendo narrado na obra". 

 
Do início ao fim, a gente sente o levante acontecer, e a esperteza da guerreira Njinga, do Pai João e de todos os negros da senzala que usavam a língua nativa para se protegerem, pois só eles entendiam aquela língua que os brancos da Casa Grande não compreendiam, e como eles eram constantemente vigiados, a língua era uma forma de comunicação para eles seguirem rumo a liberdade sem serem percebidos.

Impressiona-me nessa obra a ligação da menina guerreira Njinga com o Pai João, que ultrapassa a morte, pois ele sempre a guiava e aparecia para ela em diversos momentos. A espiritualidade aparece na obra quase que como um outro personagem, sendo temida pelos da Casa Grande, que tinham muito medo desse lado dos negros escravizados, sendo atribuída por eles como feitiçaria. Mas, ela era também uma forma de proteção, em diversos sentidos, e por causa desse medo dos brancos, o Pai João foi ouvido pelo Jerônimo, personagem que confesso ter tomado ódio no decorrer da obra, "ôh, sinhozim odioso!".

A ginga, a língua, os negros da terra, a espiritualidade, a lua que separava o tempo para que o levante acontecesse; o assobio que conduzia a Njinga a mata, direcionando a menina em direção aquele som até encontrar a sua mãe; e os cânticos introduzidos quando algum personagem negro "atravessava o rio (morria)", tudo tem poesia nessa obra.

Além da obra inteira, dois trechos me marcaram bastante: quando Njinga tem que raspar as suas tranças, que traziam memórias do Pai João que ao trança-la contava histórias. Mas, a trança foi raspada para que ela fosse marcada como escrava do Jerônimo. O segundo trecho, foi quando a menina nasce e a mãe Benedita manda que ela beba o leite rápido porque iria ser dado a menina branca, o que imagino ter sido muito difícil para a maioria das mães pretas daquela época.

Contaram para Njinga que sua mãe Benedita foi morta no tronco, e a garota retoma o contato após voltar para a Casa Grande e descobre que sua mãe estava viva na mata junto aos negros da terra, pois teve que se esconder por lá durante anos para sobreviver.

O final nos surpreende ainda mais, leiam a obra e descubram quando o canto da liberdade foi entoado entre os negros da senzala.


Resenha feita pelas sensações vivenciadas por mim enquanto leitora dessa obra.

Thaís Alessandra




domingo, 22 de outubro de 2023

Quarto de Despejo: diário de uma favelada/Carolina Maria de Jesus

 OBRA:

Quarto de Despejo: diário de uma favelada/Carolina Maria de Jesus; ilustrações de No Martins. -- 1ed. -- São Paulo: Átila, 2020. 264 p. Edição comemorativa.


PERCEPÇÕES PESSOAIS SOBRE ESSA OBRA:

O que me impressiona aqui é a fome como protagonista da sua obra, e a saúde mental afetada por essa "protagonista que rouba a cena sem ser convidada". Por diversas vezes, a autora menciona que tinha vontade de suicidar-se e viu diversos favelados passarem por esse desfecho:



"Ela disse-me que já está com nojo da vida.  Que não vê a hora de morrer.

Ouvi seus lamentos em silêncio e disse-lhe:

- Nós já estamos predestinadas a morrermos de fome!". PG 132

Já a autora padece desse mesmo mal:

"(...) Hoje acordei não temos nada pra comer. Queria convidar os filhos para suicidar-nos. Desisti. Olhei meus filhos e fiquei com dó.  Eles estão cheios de vida. Quem vive, precisa comer. Fiquei nervosa, pensando: será que Deus esqueceu-me? Será que ele ficou de mal comigo?". PG 161

(...)



Essa obra a meu ver é atemporal, e nos convida a refletir sobre a miséria e como ela afeta a saúde mental dos que estão à margem ainda nos dias atuais. ..


A autora em alguns trechos da obra se deprime e em "outros ela canta", canta principalmente quando a sua panela fica cheia e pode em raros momentos "matar à fome" dos seus filhos.


A minha impressão como escritora e artista múltipla é que Carolina de Jesus só não enlouqueceu ou morreu de fome porque "a escrita a alimentava".

FICA A REFLEXÃO:

Será que o Brasil se preparou mesmo para "libertar os seus escravos" ou apenas incutiu-lhes condições semelhantes após a abolição?

Como vamos acabar com a violência, se os que estão à margem vivem miseráveis, e irritados devido aos efeitos colaterais da fome.

Será que o Estado cuida da saúde mental dos (in)visíveis sociais, e quer mesmo os guardar e os proteger enquanto cidadãos de direitos?


Poderia expor diversas afetações pessoais sobre essa obra, entre elas:
 "ter uma ideia fixa sobre a fome, talvez seja a maior forma de nos matar", pois falar e pensar somente sobre isso tirou o tempo precioso da autora com os seus filhos e com a sua própria literatura.


A favela também escreve!

Sigo apaixonada pela literatura!


Indicação de 📚 leitura

QUARTO DE DESPEJO: DIÁRIO DE UMA FAVELADA, de Carolina Maria de Jesus #carolinadejesus 


Provocações:

Será que temos que ter o melhor português e estarmos vinculados a uma instituição acadêmica para sermos intelectuais?

Será que o conhecimento acadêmico é melhor que a sabedoria popular? 

Por que uma obra best seller foi considerada durante anos como uma literatura inferior?


"Eu disse para a Dona Maria que ia para a televisão.  Que estava tão nervosa e apreensiva. As pessoas que estavam no bonde olhavam-me e perguntavam-me: é a senhora quem escreve?

Sou e.

- Eu ouvi falar.

Ela é a escritora vira-lata, disse a Dona Maria mãe do Diogo. Contei-lhes que um dia uma jovem bem vestida vinha na minha frente, uma senhora disse:

- Olha a escritora!

O outro ajeitou a gravata e olhou a loira. Assim que eu passei fui apresentada.

- Ela olhou-me e disse-me:

- É isto?

E olhou-me com cara de nojo. Sorri, achando graça.

Os passageiros sorriram. E repetiam. Escritora vira-lata" (PERPÉTUA, 2000, p. 332).


Fica a dica de leitura! 📚 

Por Thaís Alessandra/@thais.alessandra_