quinta-feira, 16 de maio de 2024

MARIANA: O LIVRO DOS MINERAIS, de Mo Maiê


 Sabe aquela obra que você não consegue parar de ler? 

Pena que retrata uma memória-ancestral-oral de um Rio que se foi, e de um povo que se foi e vivia às margens de Watu (Rio doce), vítimas da lama-Vale. Na obra, senti o cheiro da comida que saia do fogão a lenha, a dor de Watu, a perda da cultura de um povo que vivia em Bento Rodrigues antes da tragédia-Vale passar por ali e transformar o solo em minério, o Rio em minério e o coração das pessoas em minério, pois muitos sucumbiram em depressão após a lama. 

Senti a ancestralidade indígena e negra em meio as palavras da autora, versos que se transformavam em poesia e melodia. Por vezes, me perdi em meio a poesia, causos e contos dessa narrativa. As imagens também me trouxeram memórias ancestrais, uma verdadeira obra de arte.

Ao ler essa obra, senti também a vida, a personalidade e a estória que percorre em meio aos minerais, montanhas e rios, nossos ancestrais mais velhos que chegaram aqui antes de nós, e que contam histórias ao debruçarmos os nossos olhares sobre eles.

Deixo aqui, um trecho desse livro maravilhoso! De @mo.maie (Instagram da autora):

Rio doce,

moldurado

por matas ciliares.


Pai e mãe 

de antigos cardumes

de traíras,

tilápias 

e bagres.


Leito de

 estórias,

sonhos e

rotas,


tantas

águas,

tantas 

águas

e um desejo:


o de um dia

poder 

chegar

no mar


e ser mar...

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Ancestralidade

Quanto mais entro em contato com a minha ancestralidade, mais às coisas parecem ganhar um novo sentido, uma nova percepção de mundo e um novo olhar sobre tudo.

Recentemente li o TCC: TEHEY DE PESCARIA DE CONHECIMENTO, pesquisa desenvolvida pelo parente indígena Werynehe, da etnia Pataxoop. Uma pesquisa riquíssima sobre oralidade, transmissão de conhecimentos ancestrais e educação indígena por meio da fruição com o cotidiano e a rotina da aldeia através do uso de imagens. 

Por meio dessa pesquisa, tive um insight ou ganhei um outro olhar sobre o mundo. Percebi que o ato de reclamar da chuva e do sol, está associado à lógica colonial de a natureza atrapalhar o "andamento" da cidade. Porque o indígena agradece pela chuva que molha a terra e traz consigo alimentos e todos os benefícios da chuva pra terra. Os Pataxoop fazem até ritual de gratidão após a passagem da chuva:

 "(...) No tempo das águas é muita fartura, é muita fruta dentro da nossa terra, todo mundo se junta e oferece, a gente oferece as plantas que plantamos o feijão, o milho, a pimenta, e todas as plantas que fazem parte da nossa cultura. É tempo de renovar as roças, os quintais, é tempo dos bichos estarem se alimentando e como é tempo de muita goiaba, jabuticaba, manga, de todos os alimentos, todos os tipos de fartura, de fruteiras, e a gente agradece com um canto, com dança, com grito, com sorriso e com a maior alegria. (...) Nós e a natureza vivemos com o pensamento um para o outro, e é de onde a gente recebe nossas curas. (...)" - Braz, Werynehe (p. 27, 2019).

Se você chegou até o final do texto, boa reflexão!


Por Thaís Alessandra 

#tbt 📷 de 2017