Sabe aquela obra que você não consegue parar de ler?
Pena que retrata uma memória-ancestral-oral de um Rio que se foi, e de um povo que se foi e vivia às margens de Watu (Rio doce), vítimas da lama-Vale. Na obra, senti o cheiro da comida que saia do fogão a lenha, a dor de Watu, a perda da cultura de um povo que vivia em Bento Rodrigues antes da tragédia-Vale passar por ali e transformar o solo em minério, o Rio em minério e o coração das pessoas em minério, pois muitos sucumbiram em depressão após a lama.
Senti a ancestralidade indígena e negra em meio as palavras da autora, versos que se transformavam em poesia e melodia. Por vezes, me perdi em meio a poesia, causos e contos dessa narrativa. As imagens também me trouxeram memórias ancestrais, uma verdadeira obra de arte.
Ao ler essa obra, senti também a vida, a personalidade e a estória que percorre em meio aos minerais, montanhas e rios, nossos ancestrais mais velhos que chegaram aqui antes de nós, e que contam histórias ao debruçarmos os nossos olhares sobre eles.
Deixo aqui, um trecho desse livro maravilhoso! De @mo.maie (Instagram da autora):
Rio doce,
moldurado
por matas ciliares.
Pai e mãe
de antigos cardumes
de traíras,
tilápias
e bagres.
Leito de
estórias,
sonhos e
rotas,
tantas
águas,
tantas
águas
e um desejo:
o de um dia
poder
chegar
no mar
e ser mar...