domingo, 1 de junho de 2025

Machado de Assis - DOM CASMURRO

 Uma satisfação reler a obra Dom Casmurro de Machado de Assis. 


Ao mesmo tempo que o lendário Machado de Assis retratou ironicamente os costumes de 1870, sociedade em que o catolicismo era muito forte, tradicional e exercia um grande poder político e social, que levou a mãe do protagonista Bentinho a prometer a vida dele ao celibatário sacerdotal, e mesmo sem vocação, o mesmo iniciou a sua adolescência em um seminário, afastando-se do seu grande amor, a Capitu.

Após algum tempo, algumas questões fizeram a Dona Glória repensar a vocação de seu filho. Tendo como mérito a dedicação de Capitu a ela, após o afastamento de Bentinho ao ser enviado ao seminário. Mas, a única alternativa aceita por Dona Glória para tirar Bentinho do seminário, foi pagar o seminário a outro jovem, pagando assim a dívida da sua promessa a Deus. Brilhantemente , Machado de Assis critica essas negociações com Deus, chega até a mencionar também se é certo prometer a vida sacerdotal de alguém a Deus , antes mesmo do seu nascimento, dando a entender que o mesmo pode não ter tal vocação.

O desenrolar dessa narrativa cunha no casamento entre Capitu e Bentinho, mas há um terceiro elemento, o Escobar, melhor amigo de Bentinho desde a época do seu seminário na adolescência. Quando finalmente a gente acha que o amor entre os protagonistas irá vencer a promessa da Dona Glória, que os afastou durante o tempo em que Bentinho ficou recluso em um seminário, surgiu outro enredo que não deixa o amor entre Capitu e Bentinho, acontecer: o ciúme de Bentinho ou a traição de Capitu? Machado de Assis não desvenda o mistério, fica para nós, pobres leitores, essa missão. Afinal, Capitu traiu ou não o Bentinho? Ezequiel era filho de Escobar? Seria melhor Bentinho viver plenamente o seu grande amor e ter paz ao invés de razão? Ele seria mais feliz? Afinal, terminou solitário e não se entregou plenamente ao amor do seu filho e nem da sua amada, devido a desconfiança que pairava em seus pensamentos e a certeza de que "seu filho era filho de Escobar, devido a semelhança com o mesmo".


Uma narrativa brilhante que nos envolve e nos faz "participar da trama" em cada momento de dúvida, a qual tentamos antecipar previamente o ocorrido. Em alguns momentos Machado de Assis nos indaga , nos incluindo no enredo, em outros, temos a certeza de quem escreve é o próprio Bentinho ou que o autor viveu essa história.

Leia Machado de Assis!

segunda-feira, 28 de abril de 2025

tsatê

 Tsatê, essa palavra agora faz sentido pra mim.


Quando iniciei o caminho de volta, achei que estava enlouquecendo, afinal, era um caminho de volta. Um tanto desconhecido, cheio de obstáculos desconhecidos, pedras e mais pedras que eu nunca tinha visto igual. 


Cheguei a duvidar da minha sanidade mental e da minha própria identidade. Me senti um corpo em transição étnica no mundo. Por ignorância do desconhecido, deixei que a sociedade me definisse como negra de pele parda, mas os búzios me alertaram "você têm os dois pés na mata". E aquela sensação interna, um chamado ancestral que gritava: "vem por aqui!". Até meu pai me dizer: você não é negra, você é Puri. 


O tempo foi passando e eu não entendia o que meu ancestral paterno me dizia: Puri? Que palavra é essa? O que é ser Puri? Fui pra internet e dados estatísticos me disseram: extintos. Mas e agora? Acabei de descobrir que sou Puri, e tô estatisticamente extinta? Mas eu existo e inclusive os meus familiares paternos e Puri.


Mais uma vez percorri o caminho de volta, andei pela família paterna, pesquisei o caminho do meu pai. Então, caminhei pelo território dos meus ancestrais em Barbacena MG, e passei pela origem deles em Santa Bárbara do Tugúrio, território da minha avó Margarida Helena de Jesus e descobri que minha bisavó Maria Helena de Jesus, mãe da minha vó paterna era indígena e depois descobri que a mãe do meu vô paterno Maria Antônia da Conceição era Puri também por parte do meu avô paterno João Pereira da Cruz. Os búzios tinham razão, eu tenho os "dois pés na mata" por parte de vô e vó paterno. E o nome desses "pés na mata" é Puri.


Agora tudo faz sentido! A poesia que recebi "Memória Ancestral", a minha conexão com a arte e com a escrita. O chamado que tive com a caneta desde os meus oito anos de idade . A forma como me conecto com a espiritualidade e exerço a minha fé, os rezos, os benzimentos e a horta da vó Margarida, sabedoria ancestral que recebi sem ter consciência de quem eu era. 


Houve um apagão na memória dos meus ancestrais paternos, parece que a nossa memória foi pega no laço. Agora sou porta voz da minha família e retomo a nossa identidade. Me sentía sozinha nessa jornada, estava lutando só, e ontem dia 27 de abril de 2025, pela primeira vez me senti renascer e de fato pertencente de um território ancestral. Agora não lutarei mais só, tenho o meu povo para caminharmos juntos !




Por Thaís Alessandra Puri 🏹



Tradução: tsatê (irmão/irmã na língua Puri)


Foto: Heliomar Bazillio 

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Gato é 'preso' suspeito de furto nos EUA

 
Família chamou polícia da Flórida por suspeitar de tentativa de roubo, mas era apenas um felino perdido.

 

Existe linguagem animal? Esse foi o tema da minha última aula sobre Estudos Linguísticos. Após o mistério que pairava sobre o ar, a professora concluiu que não, pois a linguagem precisa de interação entre mais de um indivíduo para que ela ocorra, além da existência de um aparelho fonador. Condições essenciais para que uma linguagem seja expressa. O fato é que a professora disse que “a Ciência tem avançado muito nos estudos e pode ser que a Ciência Linguística também amplie futuramente as suas dicotomias”.

 - Mas, professora! O aparelho fonador dos gatos possui cordas vocais, laringe e emite um ronronar, miados e outros sons, e assim como nos humanos é responsável pela emissão de sons, incluindo miados e ronronados. Ele consiste principalmente nas cordas vocais, que vibram ao passar o ar, e na laringe, que ajuda a ajustar o tom do som. Argumentou o aluno. Em resumo, o aparelho fonador dos gatos é uma estrutura sofisticada que permite uma variedade de sons, que são usados para comunicação, expressão de emoções e até mesmo para auxiliar no processo de cura.

O aluno mais uma vez insistiu em refutar a Ciência Linguística:

- Se pensarmos que todo tutor de gato fala e compreende o “gatês”, língua felina emitida pelos gatos, essa tese da não existência de uma linguagem verbal entre os animais não se sustenta, pois além da comunicação corporal e facial,  os gatos usam também a vocalização, ou seja, os felinos também se comunicam para além do “miau, miau”. Os policiais que prenderam o suspeito sabiam muito bem disso. Mas, e a Ciência Linguística, sabe? Um gato preso por furto nos EUA? Acusado e sem direito a nenhuma defesa? Apenas porque a sua linguagem não é compreendida e aceita entre os humanos. Pobre vítima do antropoceno! Será que a Ciência Linguística entendeu essa prisão? Afinal, houve uma comunicação meio invasiva e cheia de ruídos que levaram a prisão do pobre gato, que só queria matar, mas a própria fome.

O "crime" ocorreu no condado de Collier. Quatro policiais foram atender a um chamado na noite de domingo (1º) em uma casa. Barulhos levaram os moradores a acharem que um furto estava em andamento. Policiais foram atender a um chamado por furto no estado americano da Flórida e acabaram "prendendo" o suspeito: um gato. O meliante foi conduzido a um abrigo, onde a identificação por microchip revelou que se tratava de Bones, um gato de estimação que tinha fugido. O gato foi devolvido ao dono.

 


Crônica produzida por mim a partir do texto original que se encontra disponível na fonte -  https://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2019/09/04/gato-e-preso-suspeito-de-furto-nos-eua.ghtml


Por THAÍS ALESSANDRA 

domingo, 20 de abril de 2025

O LIVRO DE TERESA

 Um romance poético-ancestral 


Indico: O LIVRO DE TERESA de @carlos.renatto



Teresa, filha de Oyá, destemida e seguia rumo ao seu destino-mar. Sempre pintava o seu coração e o enfeitava das cores que atinasse. Sua personalidade se misturava a dos orixás que a regiam, meio vento, meio água. 


A poesia-romance de Teresa se passa num quilombo, e nos prende a atenção do início ao fim, nos fazendo sentir o cheiro do café coado com a água do rio, o cheiro das flores e da beira do fogão a lenha. 


 Lembrei das histórias que minha avó Margarida contava quando me deparei com a Vó Quitéria também. Um colo pra alma.



Por Thaís Alessandra 

quinta-feira, 20 de março de 2025

Vozes das águas: Um Livro de Poesias Fluviais

 

Vozes das águas: Um Livro de Poesias Fluviais

AUTORA: Thaís Alessandra 


📚SINOPSE📚

"Um convite a olhar o mundo através dos olhos d'água e suas cosmovisões de mundos. 

Honro os corpos-águas de todo o planeta. Seres de travessia e tamanha grandeza. Espíritos d’água que nos convidam a mudar de rumo, fluir em liberdade, rumo ao nosso destino. VOZES DAS ÁGUAS. Evocam histórias de vários mundos. 

Saúdo o RIO DAS VELHAS, O RIO DOCE (WATU), O VELHO CHICO, A BACIA HIDROGRÁFICA DA PAMPULHA, O RIO ARRUDAS, e todos os CORPOS-ÁGUAS conterrâneos de Minas Gerais, do meu Brasil e do mundo. Quando iniciei essa obra, achei que não teria um fim. Impossível dar voz para todos os CORPOS D’ÁGUA da Mãe-Terra. Trago em minhas memórias, memórias d'águas que fazem parte da minha história e identidade. Trago as reflexões dessas águas e dos seus saberes ancestrais para nós. Caminho de esperança de um mundo melhor que carrego às margens dos meus versos d’água."


Arte Impressa Editora - @arteimpressaeditora
Arte da capa - Richard Bertolin - @richartbr
Posfácio de Heliene Rosa - @heliene.rosa.965
Prefácio de Dauá Puri - @dauapuri


Para adquirir o seu exemplar, entre em contato pelo whatsapp da autora Thaís Alessandra 
(31) 97169-2376

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

CANÇÃO PARA NINAR MENINO GRANDE

 A meu ver, CANÇÃO PARA NINAR MENINO GRANDE de Conceição Evaristo traz uma reflexão sobre as várias nuances do machismo, e como o mesmo afeta também os homens pretos, que assim como o protagonista desta obra, não "tem o mesmo estereótipo social de um príncipe branco".


Fio Jasmin "tem dois lados", como a maioria dos personagens de Conceição Evaristo , não conseguimos enxergar só o "lado ruim" dele. Fio Jasmin passa a imagem de um homem que vive como se as mulheres não existissem, elas servem de chacota para ele e seus amigos maquinistas que se divertiam com as histórias que ele contava sobre elas. Em cada estação Fio Jasmin apenas se deitava com essas mulheres que ele julgava não ser para serem levadas a sério. Apesar disso, elas o consideravam um príncipe negro, e preenchiam seus sonhos com ele, talvez crenças sociais que limitam essas mulheres: crença de ter que se casar, de não poder ficar sozinha, de ter que ser mãe; e assim, elas iam aceitando migalhas de afeto e sem ao menos enxergar a verdadeira intenção daquele homem que sem responsabilidade afetiva alguma saia fazendo filhos como quem "escova dentes ou vai ao banheiro satisfazer a sua necessidade fisiológica", e depois desaparecia até a próxima estação, sem se envolver com a real história dessas mulheres, ele satisfazia mais uma "necessidade fisiológica ". E assim, a mulher que ele escolheu como mãe dos seus filhos, era a Pérola Maria, essa era respeitada, e casada com Fio Jasmin, cuidava da casa , enquanto ele satisfazia suas necessidades fisiológicas por aí.


Mas no fundo, Fio Jasmin carregava o mesmo vazio que seu pai, que homem não podia chorar, tinha que dar conta de tudo e que não podia se envolver emocionalmente com as mulheres que ele ficava. Um antagonismo que só a artista das palavras, Conceição Evaristo consegue fazer. 


Ele aprendeu com o pai o que era "ser um homem de verdade". A meu ver, é a história da misoginia dos tempos atuais, uma história atemporal que atravessa a nós mulheres e a masculinidade tóxica que também faz mal aos homens que se deixam intoxicar.


 Por Thaís Alessandra (@thais.alessandra_)