Uma satisfação reler a obra Dom Casmurro de Machado de Assis.
Ao mesmo tempo que o lendário Machado de Assis retratou ironicamente os costumes de 1870, sociedade em que o catolicismo era muito forte, tradicional e exercia um grande poder político e social, que levou a mãe do protagonista Bentinho a prometer a vida dele ao celibatário sacerdotal, e mesmo sem vocação, o mesmo iniciou a sua adolescência em um seminário, afastando-se do seu grande amor, a Capitu.
Após algum tempo, algumas questões fizeram a Dona Glória repensar a vocação de seu filho. Tendo como mérito a dedicação de Capitu a ela, após o afastamento de Bentinho ao ser enviado ao seminário. Mas, a única alternativa aceita por Dona Glória para tirar Bentinho do seminário, foi pagar o seminário a outro jovem, pagando assim a dívida da sua promessa a Deus. Brilhantemente , Machado de Assis critica essas negociações com Deus, chega até a mencionar também se é certo prometer a vida sacerdotal de alguém a Deus , antes mesmo do seu nascimento, dando a entender que o mesmo pode não ter tal vocação.
O desenrolar dessa narrativa cunha no casamento entre Capitu e Bentinho, mas há um terceiro elemento, o Escobar, melhor amigo de Bentinho desde a época do seu seminário na adolescência. Quando finalmente a gente acha que o amor entre os protagonistas irá vencer a promessa da Dona Glória, que os afastou durante o tempo em que Bentinho ficou recluso em um seminário, surgiu outro enredo que não deixa o amor entre Capitu e Bentinho, acontecer: o ciúme de Bentinho ou a traição de Capitu? Machado de Assis não desvenda o mistério, fica para nós, pobres leitores, essa missão. Afinal, Capitu traiu ou não o Bentinho? Ezequiel era filho de Escobar? Seria melhor Bentinho viver plenamente o seu grande amor e ter paz ao invés de razão? Ele seria mais feliz? Afinal, terminou solitário e não se entregou plenamente ao amor do seu filho e nem da sua amada, devido a desconfiança que pairava em seus pensamentos e a certeza de que "seu filho era filho de Escobar, devido a semelhança com o mesmo".
Uma narrativa brilhante que nos envolve e nos faz "participar da trama" em cada momento de dúvida, a qual tentamos antecipar previamente o ocorrido. Em alguns momentos Machado de Assis nos indaga , nos incluindo no enredo, em outros, temos a certeza de quem escreve é o próprio Bentinho ou que o autor viveu essa história.
Leia Machado de Assis!